Eu não acho que escrevo tão bem, e essa convicção aumenta quando leio tantas pessoas que admiro. Meus conhecimentos ortográficos, gramaticais e sintáxicos são limitados, e ando dedicando pouquíssimo tempo à leitura formal – o que invariavelmente afeta a qualidade das minhas produções textuais. Mas já recebi elogios, inclusive de pessoas que me são muito caras e as quais agradeço imensamente. Elogiam sobretudo a correção do que escrevo, a atenção aos detalhes para que eu falhe pouco, mesmo em mensagens informais.
Sinto frustrar essas pessoas agora, mas acabo de identificar isso como mais um sintoma de algo que tem se tornado evidente e intenso em mim. Eu tenho TOC!
É comum em portadores do Transtorno Obsessivo-Compulsivo ficar verificando as coisas, e sentir extremo desconforto ao ver algo “desalinhado”. Eu apresento isso das mais diversas formas. E parece que foi pior no período em que morei sozinho, antes de me casar. A mais bizarras das obsessões/compulsões era a necessidade de manter os interruptores de lâmpadas alinhados, o que me fazia, às vezes, atravessar um cômodo só para apertar o interruptor do outro lado e manter todos, do lado de cá, apertados para o mesmo lado.
Acontece algo parecido quando estrou escrevendo. Geralmente escrevo uma frase, e logo releio-a para ver se nada ficou fora do lugar, e se a idéia está coesa. Mesmo assim o produto final fica uma coisa escandalosamente cheia de falhas, o que é natural. Mas aí, quando qualquer pessoa normal apertaria a tecla ‘Enter‘ e mandaria a mensagem – afinal às vezes é só um bate-papo informal, ou um comentário em alguma rede social – eu resolvo reler. E de novo, e de novo. E a cada leitura, novos erros, e simplesmente não consigo deixar como está. Tenho que alterar, ajustar, alinhar… Isso é TOC!
Eu poderia tirar vantagem disso, e já que tenho essa compulsão, usa-la a meu favor e escrever melhor. Mas aí esbarro em dois problemas. O primeiro são as limitações do português. Eu só posso identificar um erro se eu conhecê-lo. E mais do que isso, eu normalmente não notarei algo que eu não esteja treinado para identificar. O segundo problema é o tempo…
Me lembro que uma vez, logo após postar um texto neste blog, conversava com meu primo Leandro e ele perguntou quanto tempo eu levava, em média, para conceber e escrever um algo aqui. Eu acho que menti, e disse que demorava em torno de uma hora, se não tivesse que fazer nenhum tipo de consulta ou tratamento de imagem, e etc. Menti porque já achei absurdo uma hora para uma lauda. Jornalistas provavelmente morreriam de fome se levassem essa proporção de tempo em coisas maiores e mais sérias. Mas a verdade é que normalmente levo até mais do que isso! E a coisa só não fica pior porque, depois de um tempo eu me dou conta do tempo que estou “perdendo” – e quem me conhece sabe bem como tempo anda escasso – e simplesmente desisto de novas releituras.
Mas os erros continuam lá… E se eu resolver reler mais uma vez daqui uma semana, um mês, um ano, vou ser novamente acometido por uma absurda ansiedade, só que dessa vez somada a um leve desconforto por aquilo ter ficado ali “desalinhado” por tanto tempo.