Quando a tal lei Ficha Limpa foi aprovada, o país inteiro, exceto, é claro, os políticos – e eu diria ‘os corruptos‘, se não fosse pleonasmo – festejou a “conquista do povo”. Afinal, houve uma enorme pressão popular para que a lei fosse aprovada de imediato, antes do pleito deste ano. Recolheram milhões de assinaturas, fizeram passeatas e uma intensa mobilização pela Internet, até a importante conquista no combate à corrupção.
Não há como revogar o mérito da lei. Muito menos a importância da mobilização popular para que isso fosse posto em prática de imediato. Provavelmente muitos, como eu, se perguntaram: “ué, como é que isso não era assim antes?” É o mínimo! É o óbvio! Você não consegue emprego público concursado com a ficha suja, por que deveria pleitear um cargo público?
Agora, com a lei aprovada, e teoricamente “em prática”, a pergunta mais comum é: “será que vai pegar mesmo?“
Mas eu tenho outra pergunta a propor. Uma pergunta que não sei se ando fazendo sozinho ou se mais gente questiona isso…
Será mesmo que é uma conquista a ser comemorada?
Vamos combinar, o Ficha Limpa é uma derrota social sem precedentes. Num país democrático e livre – e somos um, razoavelmente – em que a grande maioria tem acesso às informações, e pode escolher seus candidatos, precisamos de uma lei que nos impeça de eleger corruptos condenados?
Na última eleição, algum paulista não sabia que o Maluf era um ladrão sem vergonha? E ele não foi o candidato a Deputado Federal mais votado no estado? E por acaso não será um dos mais votados de novo, mesmo com a ficha “suja”?
Cabe até a pergunta se essa lei é democrática, na essência. Num ambiente democrático ideal, o povo deveria ter o poder de decidir, por exemplo, entre um candidato com uma condenação suspeita (forjada) e “leve” (contravenção irrelevante), ou um sabidamente corrupto, extremista, mas que não tem condenação (o que, todos sabem, não é raro).
Eu sei que não vivemos em uma democracia ideal. Mas fica a pergunta: vale mesmo toda essa empolgação? O Ficha Lima é um motivo de orgulho pra você?
Olha, infelizmente precisamos dessa lei, pois uma grande parte da população não tem acesso a informação e se tem acesso, não tem instrução para se interessar a buscar essa.
Acredito que somente quando todos tiverem acesso a uma educação de qualidade é que poderemos abrir mão de leis como essa.
Fora o fato que muitos já nem prestam mais atenção nas eleições e votam em partidos e não em candidatos. Pelo menos essa lei ajuda na seleção dos candidatos que entram segundo os pontos de seu partido.
Pois é, como eu disse, não vivemos numa democracia ideal, então é importante a lei. Só questiono o orgulho que muitos sentem dela.
Sobre votarem mais em partido que em candidatos, eu não sei… Acho que tem muito disso, mas SP é um exemplo de que isso não é regra. Aqui a Dilma e o Alckmin devem ter maioria absoluta de votos.
Eu não curto a ideia. Acho que cabe ao eleitor procurar conhecer em quem ele está votando. E acho que é sim um direito que os “ficha suja” possam se candidatar, desde que já tenham acertado suas contas com a justiça. Cabe ao eleitor julgar se o cara merece nova chance ou não…
Bom, apesar das minhas críticas, que são mais para as falsas impressões da lei, eu gosto dela sim. Sou a favor.
Me fez lembrar o cartaz que eu vi hoje anunciando a candidatura de Eurico Miranda para Deputado, onde se via ao lado da foto dele, o carimbo “ficha limpa”.
Antigamente ele tinha eleição garantida pelos vascaínos. Mas os vascaínos de verdade são os primeiros que não deveriam votar nele. Ele ainda se elege por aí?
Olha… caber ao eleitor saber sobre o candidato, pode ser. Mas vejamos. Tem um bando de políticos que até os eleitores já sabem que ele é “ladrão” mas votam (e os elegem) porque gostam da teoria do “rouba mas faz” (e na verdade não faz, mas vende bem a imagem de que faz). É esse eleitor que segue (seguia?) em frente elegendo candidatos ficha-suja. Não adianda dizer que ele “tem que saber”. Muitas vezes ele já sabe, e deixa rolar.
Ai é que tá. Se fosse respeitar a democracia, esses deveriam ser aceitos, já que são votados pelo “povo”. A lei acaba sendo uma proteção da sociedade sobre ela mesma. Tipo: “vocês são livres pra votarem em quem quiserem, só não vale sacanagem”. A não ser as sacanagens controladas por eles.. rs.
Não é motivo de orgulho, deveria ser óbvia a proibição de candidatar pessoas com a ficha suja. Mas, tendo em vista a grande massa sem acesso às reais informações a respeito dos candidatos, acaba valendo como ponto positivo. e de boas reflexões, como você propõe aqui.
Um beijo