(série esporádica de posts despretensiosos sobre histórias inusitadas, em ordem descontínua, de minha vida pacata)

(texto originalmente publicado no Mondo Redondo, em 15/01/2004)

O serviço extra (famoso bico), que eu fora fazer em um residencial afastado alguns kilometros do perímetro urbano, não estava dando muito certo. Quando finalmente abandonei a casa do cliente, prometendo volta no dia seguinte, já era 1 da manhã.

Enfim, ia pra casa, depois de cinco horas de sofrimento lutando contra uma caixa de portas-lógicas (percebe que é nisso que um computador consiste?). Na saída do residencial, para tomar a rodovia que me levaria de volta pra casa, havia um retorno enorme, recém construído. Fazer todo aquele balão para tomar uma entrada a poucos metros a esquerda parecia desnecessário, ainda mais àquela hora. Cortei caminho e peguei a entrada que me parecia óbvia. Se eu tivesse feito o balão, teria lido as placas…

Rodados alguns metros além, percebi que a estrada onde eu deveria estar passava ao lado, separado de mim por grama e cerca. Mas o meu caminho seguia estritamente paralelo, porém em meio ao nada. Logo imaginei que não asfaltariam um trecho no meio do mato que não levasse a lugar algum, e segui. Talvez pelo sono, a única possibilidade que procurava era de haver uma passagem que me levasse de volta à estrada. Assim segui, até que a rua em que estava me apresentou uma curva à direita (minha estrada estava à esquerda!), voltada para o nada.

Com certeza foi o sono… Por um momento pensei virar 180º e voltar ao retorno, o que deveria ter feito de cara. Mas não… Tomado sabe-se lá por qual força do mal, “vi” diante de mim, onde a rua virava, um rastro de terra que “me levaria à minha estrada, enfim”. Fui, devagar… Farol alto, pois, claro, uma rua no meio do nada não tinha luz. Farol alto de fusca ilumina muito bem o que estiver muito à frente, porém não iluminou o buraco que se apresentou a minha frente. Buraco? Na verdade era uma vala. Caberia eu deitado nela (e olha que sou gordinho), tranqüilamente.

Primeiro caíram as rodas da frente no buraco. Na vã esperança de sair dali, engatei a marcha ré… Nada. Sabia que o melhor a fazer era deixar como estava e pedir ajuda. Mas, hei, eu estava no meio do nada, perto de lugar nenhum, a uma e quinze da manhã, sozinho, e sem o celular que eu havia esquecido. Então, desesperadamente, tentei acelerar rapidamente para frente. Consegui enfiar as duas rodas traseiras sentadinhas no buraco, de onde não saíram mais.

Travei todas as portas e liguei o alarme. Escondi o rádio, claro. Saí meio sem rumo em busca de ajuda. Resolvi andar, primeiramente, na direção da rua que subia, aparentemente em direção a nada, pois vi algo que parecia uma fábrica à distância. Chegando lá em cima, descobri que aquele era o fundo da fábrica, mas não havia ninguém ali. Dar a volta nela toda demoraria demais, então resolvi descer. Pulei a grade de arame-farpado que me separava da estrada e caminhei até uma fabrica mais adiante. Ali eu sabia que era a frente da fábrica e tinha vigia, mas nem foi necessário, pois logo avistei um orelhão.

Claro, disquei para casa. Ajuda fraterna as 2 da matina é muito bem-vinda. A partir daí, muito sofrimento para tirar o carro de lá, tanto que foi necessário ainda acordar um tio nosso que morava perto, coitado. Mas, o importante é que eu não estava mais sozinho. É uma sensação horrível.

Não foi possível levantar o carro para tirá-lo do buraco, pois no fusca o motor fica atrás e era muito peso. Então usamos foice e enxada para bolar uma espécie de rampa. Depois usamos algumas pedras para dar fricção às rodas. E, com muito custo, o carro saiu, as 3:35 AM.

Meu fusca da época. Apesar das aventuras, ou até por elas, muita saudade dele.

anderson

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