Eu devo ser bobo mesmo, mas em casos como o da confusão de soro por vaselina que provocou a morte de uma menina de 12 anos, eu tenho dó da enfermeira. “Mas pensa na mãe da criança“, argumentou minha esposa ontem comigo. Eu penso. Penso sim. Penso na criança também. Mas também penso na enfermeira, que certamente não fez de propósito. Cometeu um erro fatal por distração. E eu, um distraído nato, entendo isso. E tenho dó.
O sentimento piedoso não isenta a culpa. Ela deve sim ser responsável pela displicência, pela incompetência, como nós também somos responsáveis todas as vezes que cometemos nossos vacilos, em qualquer esfera, e sempre compatível com a gravidade da consequência. É uma responsabilidade a qual ela se submeteu quando escolheu sua profissão. Mas não é fácil.
Estávamos olhando ainda essa semana, coincidentemente, os valores pagos pela Prefeitura Municipal, aqui em São Carlos, na área de saúde. Um auxiliar de enfermagem não ganha R$ 900,00. Um técnico, menos de R$ 1500,00, inicialmente. Responder por vidas a troco de salários como estes, só explica-se com muito amor à profissão e muita vontade de cuidar das pessoas. E até por isso, a dor da auxiliar de enfermagem Kátia Aragaki, de 24 anos, deve ser ainda maior. Dedicar a vida às vidas alheias, e ver uma que mal iniciara cessar por sua responsabilidade, será sua maior punição, a qual ela estará submetida e aprisionada talvez para sempre.
Não que a dor da perda de um filho possa ser um dia reparada…
Em um setor seguimos padronizações do que pode e não pode, enfatizo que o frasco de vaselina no setor era com a mesma aparência porém pequeno e de 250ml,em uma sala de hidratação somente soro e medicações são padronizados,em hipótese alguma aquela vaselina deveria estar no meio de soros de reparação nome dado ao conteúdo do frasco,qq um do setor poderia ter cometido essa fatalidade .pois a demanda eh grande sobrecarregada.
Infelizmente perderam essa vida,mas quantas foram salvas,quantas foram tiradas de pais violentos de abuso naquela instituição perfeito somente Deus
Que a paz do Senhor esteja com tds
Pois é, se para a auxiliar de enfermagem ficou a lição da importância de estar atenta em seu trabalho, e checar tudo, mesmo que algo pareça óbvio, para a sociedade, e principalmente para as autoridades, deveria ficar essa lição. De que alta demanda e condições limitadas aumentam os riscos de erros.
No fundo esses profissionais são heróis, por conseguirem evitar que erros como estes sejam cometidos todos os dias, nas condições que têm para trabalhar.
Pois é, todos estamos sujeitos a erros no âmbito profissional. Porém em muitas profissões as consequências do erro são terríveis.
Não é só esse tipo de profissional que lida com vidas e é mal remunerado. Um motorista de ônibus, por exemplo, transporta vidas, e sua remuneração tá longe de ser boa. E, quando se envolve em um acidente (a própria palavra diz, acidente), além de poder tirar dúzias de vidas, ainda pode ir parar até no xilindró, por alguma distração.
Ainda assim, profissionais que lidam com vidas e possuem boa remuneração, como médicos, também erram. Aqui em São Carlos mesmo já vimos tantos casos…
Sim, e normalmente usam dois bons argumentos pra isso:
1 – A capacitação qualificada, que deveria reduzir o risco de erros.
2 – A responsabilidade a que respondem.
Já no caso das auxiliares de enfermagem, os riscos são parecidos (embora sejam mais procedimentais que de decisão/diagnóstico). Já o salário…
Em qual instituição a auxiliar de enfermagem é formada?
Isso é um fator a ser levado em consideração. Confundir o frasco, achar que tinha lido soro ao invés de vaselina e, depois, quando colocou o frasco no suporte e injetou na veia da criança, é notável que a vaselina possui um aspecto diferente.
Ela é formada recentemente. Estranho, não? Se fosse uma pessoa com muito tempo de experiência, até que se pode pensar em considerar distração….mas não é o caso.
Tenho colegas que estudam engenharia que levam a graduação uma verdadeira várzea, colam nas provas, copiam listas de exercícios e constantemente falam “eu não lembro mais nada dos primeiros anos”. Tenho medo desses futuros profissionais.
Eu volto a dizer, se a pessoa é bem formada, esse tipo de erro não acontece. Porque simplesmente não pode acontecer.
Ler um rótulo em um ambiente que envolve vidas é algo como respirar para o ser humano, é algo como refazer inúmeras vezes os cálculos para o engenheiro, é algo como manter os olhos abertos para os motoristas de ônibus.
Não fez a obrigação e vai pagar caro por isso, tanto socialmente quanto moralmente.
Olha… bom… sim, é comovente o depoimento da enfermeira, falando do acidente, de ter errado, etc… mas, enfim, ganhando muito ou pouco (antes de entrar na profissão, ela já sabia quanto ganharia e qual seria a responsabilidade que o trabalho necessita, certo?), se do meu trabalho dependem vidas, ou qualquer outra coisa que se eu fizer errado eu não tenha como consertar, pode crer: vou pensar 1000 vezes e prestar muuuuuuuuuuuuita atenção antes de fazer qualquer ato. Porque se der zebra, sei que vai dar zebra é pra mim mesmo.
Foi isso que aconteceu.
Na área da saúde não existe essa de “bati o olho no rótulo”, ou vc leu COM ATENÇÃO ou não leu!. Típico de Sistema Único de Saúde né.
Na Unimed as enfermeiras têm que ler em voz alta o medicamento que vai aplicar na frente do paciente e pergu…ntar se o mesmo possui alguma alergia a determinada substância. E isso independe de estar na correria, TEM QUE FAZER E PONTO.
Imagina como essa menina sofreu? Vaselina X Soro – imagina uma líquido oleoso(grosso) sendo aplicado na veia da coitatinha? É dolorido demais gente! Li em algum site que a menina olhou pra mãe e disse: “Vou morer!”. Puts, eu chorei qdo li isso 🙁
Fato é que, a tal enfermeira não é a única culpada nisso.
Irresponsabilidade dela (que “bateu’ o olho no rótulo), irresponsabilidade de quem guardou os frascos misturados, irresponsabilidade do farmacêutico, da empresa que forneceu, da vigilância sanitária… ixii…
Uma vida se foi infelizmente.
Então, ela é culpada, sabe disso, admite, e é isso que vai torturá-la eternamente. Tudo por um vacilo bobo, porém, fatal.
Minha “dó” é muito em relação ao julgamento público que ela está sofrendo, sendo que não é uma pessoa ruim, não é uma pessoa diferente de mim, ou de qualquer um, e já terá seu fardo bastante pesado. Não precisa que a recriminemos mais. A justiça, se tiver que fazer algo, ok, mas é uma situação muito diferente de um homicídio. E essa distinção tem que ficar clara.