Uma das coisas que me faz gostar da Filosofia é que sempre encontramos nela muitas reflexões sobre nossos dilemas existenciais. Mas nunca respostas. E isso é bom.

Eu não sei se acontece com todos, mas eu sempre questiono os rumos que tomei, as escolhas que fiz, e se estou hoje onde deveria estar. Nietzsche provavelmente me sugeriria responder se estou fazendo aquilo que desejaria fazer para todo o sempre. Pois devo saber do que gosto, ainda que o mundo se empenhe em me dissuadir ao contrário.

Nietzsche, tal como eu, era apaixonado por música. Diz-se que passou seus últimos momentos em vida atrás de seu piano. “Sem música, a vida seria um erro”. Mas não era da música que o bigodudo vivia. (Não, esse de quem você se lembrou é o Belchior). Ou, pelo menos, não é por suas composições que nos lembramos dele hoje, e sim por seus livros, suas ideias.

Os gregos, contestados por Nietzsche, tinham uma visão um pouco diferente.

“quando os seus talentos encontram as necessidades do mundo, ali está a sua vocação”.

A frase é geralmente atribuída a Aristóteles e ilustra bem o típico pensamento grego antigo. A ideia de que nossa vida faz parte de uma engrenagem. Nossa presença no mundo tem uma função para o todo, e devemos nos esforçar para descobrir qual é e desempenhá-la da melhor forma possível. E aí complica. Porque podemos até elencar aí uma meia dúzia de coisa que gostamos muito – e ainda assim vai ser difícil definir de qual gostamos mais. Agora, saber no que somos bons e onde melhor podemos contribuir para o mundo…

Se gosto do que faço? Gosto, claro. Ou, parafraseando Noel Gallaher:

“eu sou compositor programador porque não sou bom em mais nada e me pagam bem.”

O dilema é que gosto e muito de muitas outras coisas. De música, como já disse. Ou de Filosofia. E talvez importe menos nossas pré-disposições inatas do que para onde escolhemos concentrar nossos esforços. Ou para onde a vida nos leva a concentrar nossos esforços, segundo sua suposta necessidade e nossa habitual adequação.

Estive nos últimos meses, até essa semana, a um passo de ingressar em uma nova graduação, em área de conhecimento muito (ou nem tanto) diversa da minha. Justamente a Filosofia. “Por quê?” ou “pra quê?”, você pode se perguntar. Pois é. Pensamento utilitarista, diriam os filósofos.

Por hora, a Filosofia permanecerá em minha vida na mesma prateleira da música. A das coisas que gosto tanto que mantenho longe da lista das obrigações. Mas que, mesmo sem qualquer talento, continuarei aprendendo. Porque no fundo acho que é disso que mais gosto. De aprender.

anderson

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