Plorifera-se pelo país manifestações contra o aumento nos preços dos combustíveis. Protestos contra postos organizados via redes sociais, correntes de e-mail convocando a boicotar distribuidoras, aplicativos online para sinalizar os melhores preços, etc, etc.

Poderia me comover toda essa atitude popular e coletiva. O problema é a motivação individual indelével. Garantir que todos possam continuar andando sozinhos em seus carros, que caberiam quatrou ou cinco, a um custo que caiba no bolso do motorista. Esqueça. Não há futuro nisso. O transporte individual, sobretudo no Brasil, acelera forte rumo ao caos. E não há volta. Qualquer tentativa de atenuar os problemas decorrentes disso só levarão a novos problemas.

É muito carro! É insustentável! Só na minha cidade, cuja população gira em torno de 220 mil habitantes, a frota de veículos ultrapassa 140 mil! Arrisco dizer que há mais carros do que motoristas habilitados. Não por acaso, o transporte coletivo na cidade é considerado caro, ineficiente e de péssima qualidade.

Por que então não há mais investimento em transporte coletivo? Por que o uso de carros não é desestimulado? Porque nossa sociedade, e o Brasil em especial, está organizada hoje em torno dos automóveis.

Eu não tenho aqui dados estatísticos, mas vamos tentar dimensionar: quantas pessoas hoje sobrevivem, direta ou indiretamente, da indústria automobilística? Só nas montadoras são tantos empregos que municípios comumente travam batalhas fiscais a fim de atrair novas instalações, que rapidamente passam a ser a engrenagem econômica das regiões em que se instalam. E junto vem concessionárias/distribuidoras, oficinas, auto-peças, seguradoras, financiadoras, postos de gasolina, e uma infinidade de serviços, principalmente públicos.

E aí começamos a pensar quanto do nosso dinheiro é gasto para manter tudo isso. Não apenas o que deixamos no posto de gasolina, mas em todo o gasto público com infraestrutura de transporte, que hoje é o assunto número um de qualquer administração municipal ou estadual. Ou vamos negar que quase sempre julgamos nossos governantes pela quantidade de vias e pontes que fazem, pelos buracos que deixam de tapar, pelo efetivo de segurança que dispõem para problemas no trânsito, pelos pedágios e multas que cobram dos motoristas…

É tanto dinheiro envolvido que, não por acaso, o Brasil só se esquivou da crise mundial em 2008/2009 devido a incentivos fiscais para… Compra de veículos, é claro. Da mesma forma, outros países sucumbiram também pela crise na indústria automobilística. Guerras são travadas por combustível. Florestas são derrubadas para abrir espaço para biocombustível. Comida deixa de ser feita para a produção de biocombustível!

Já chegamos a este ponto? Vivemos para abastecer, e não o contrário? O que se chamava de “meio” de transporte agora é o próprio fim?

anderson

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