Posted in Política on the 1st novembro, 2010 by anderson
- É Dilma, então, a nova presidente do Brasil. A primeira mulher, e, independente do que vier, é um orgulho presenciar essa página da história, como já havia sido um orgulho ver o operário Lula lá.
- A sensação não é de euforia, longe disso. Talvez não fosse sequer se a minha candidata, Marina Silva, tivesse sido a eleita hoje. Porque nessa hora não vale a empolgação, vale o zelo, a vigilância. Estou como a maioria que NÃO votou na candidata eleita (somando-se aos votos do adversário os votos nulos, brancos e as abstenções). Preocupado. Incomodado de vê-la abraçando Sarney e Palocci, como eu já sabia que seria.
- Mas devo confessar que é sim uma grande sensação de alívio. Um alívio de quem presenciou, de maneira muito próxima, as atitudes anti-democráticas e a total ausência de sensibilidade social de José Serra. Um alívio para quem não concorda com a forma de governar dos tucanos, com exageros neoliberais e orientação para os números, com dependência externa e elevada exposição às crises globais.
- Alívio, acima de tudo, pelo fim da campanha eleitoral. Possivelmente a que mais me envolvi (no sentido de estar envolvido por, e não de participar efetivamente), muito por culpa das redes sociais. Debati, opinei, sei que fui chato muitas vezes, mas, de fato, minha indignação diante de preconceito e covardia é desmedida! E o que vi nesses tempos deu nojo, muito nojo! Começou antes mesmo do período eleitoral. Recebia e-mails já tentando “demonizar” a candidata petista. Mesmo não sendo a minha primeira opção, aquilo me causava repulsa, asco. Pintaram-na como terrorista, por ter pertencido a grupos revolucionários nos anos 60. Ora, ou essas pessoas faltaram às aulas de história, ou provavelmente alinham-se aos militares daquela época. Porque não faz sentido ignorar o contexto histórico daquele período. Na verdade, é quase certo que as mesmas pessoas que ajudaram a espalhar essa imagem da Dilma, votaram em Aloysio Nunes em São Paulo, ou no Gabeira no Rio, e por aí vai. É como citei sobre o assunto várias vezes: quem faz isso, ou é ignorante, leviano, ou age de má fé realmente, com hipocrisia. Porque não é possível! A campanha suja de boatos e ditorções ploriferou-se pela Internet em um volume ridículo e assustador! Inventaram até que Dilma não teria nascido no Brasil, ou que não pudesse pisar em solo americano! Isso menos de um ano do encontro dela com Obama! Foi um desfile cibernético de ódio e preconceito, de todas as espécies. Preconceito de classe, coisa mais antiga e inadequada! Preconceito regional, de gênero, até de opinião… Com o tempo, muitas pessoas passaram a ter um ódio e uma repulsa pela candidata, agora eleita, que, se você perguntasse, poucos conseguiam explicar! Porque não havia razão! Era só preconceito! E eu sei que esse preconceito vai continuar lá, e fico triste por saber que ele ainda existe com tanta força. Mas sinto alívio, sim, por saber que com o fim do período eleitoral não verei isso tão escancarado por algum tempo de novo.
- De longe, o fato que mais me chateou nesse período todo foi o envolvimento de religiosos. Não que eu não aceite que a Igreja mostre sua posição, defenda os valores que a norteiam e que são pilares de suas (nossas) crenças. O que eu não aceito e não entendo é que padres e bispos distorçam a realidade, e usem argumentos frágeis e falaciosos para sustentar o que são, na verdade, suas convicções pessoais, já que em nenhum momento a Igreja se posicionou oficialmente por um ou outro candidato. E tão decepcionante quanto ouvir isso dentro da Igreja que sigo, foi a reação causada por isso, e declarações absolutamente desrespeitosas e preconceituosas de quem está de fora – incluíndo aí, principalmente os petistas.
- Minha expectativa para o Governo Dilma é cautelosa. Não espero que seja melhor que o de Lula, porque, como sempre repito, considero o melhor da história da nossa república. Mas o contexto pode ajudar. O Brasil teve avanços importantes nos últimos anos, e tem uma série de planejamentos e de ações programadas para os próximos quatro anos. Mas vamos ver…
- O PSDB até que se saiu muito bem dessa eleição. Evitou um massacre da Dilma pra cima do Serra, e ficou com maioria esmagadora de estados. Eu só espero que enterrem de vez o José Serra, ou o transfiram pro DEM, que é muito mais a cara do candidato derrotado. Tinha até musiquinha subliminar na campanha: “O Serra é do DEM, o Serra é do DEM”. Bons nomes surgem para fazer uma oposição de verdade. Vejamos, por exemplo, como serão as atuações de Aloysio Nunes e Aécio Neves no Senado.
- Enfim, é muito bom que tudo isso tenha passado. Meus poucos leitores provavelmente agradecem. Hehe.