O atual reitor da USP, João Grandino Rodas, escolhido a dedo e com requintes de crueldade por José Serra para administrar a, por enquanto, maior universidade da América Latina, continua destilando seu terror e ódio aos servidores.
Em entrevista recente ao jornal O Globo, Rodas pronunciou, entre outras temeridades, a seguinte pérola:
Há poucos dias eu estava meditando sobre um número que me preocupou. Hoje temos 80 mil alunos – entre graduação e pós-graduação -, nós temos quase seis mil professores e 17 mil funcionários – eu não estou contando os terceirizados. Isso daria uma média aproximada de 3 funcionários por aluno. E, hoje, eu acho muito difícil que outra universidade no mundo tenha uma percentagem tão elevada de funcionários por alunos, como a USP.
Agora, vamos listar os equívocos da mais nova tentativa de jogar a sociedade contra os servidores não-docentes da USP:
- É difícil saber se o erro grosseiro na matemática do reitor foi vacilo ou estratégia. Se são 80 mil alunos e 23 mil servidores, a conta é de 0,29 servidores por aluno, ou 3,5 alunos por servidor, e não o contrário! Mas, no discurso, fica realmente assustador quando um contribuinte lê que banca “uma média aproximada de 3 funcionários por aluno”…
- A conta pende sempre para o que se quer provar. Até então, em nenhuma vez professores e funcionários haviam sido colocados juntos nas contas do reitor. Tanto é que em 2010 ele deu aumento real exclusivamente aos docentes, em virtude do que chamaram de “política geral de valorização dos recursos humanos”. Enquanto os outros seguem carimbados com a alcunha de não-docentes, portanto, não humanos. Uma negação simbólica no âmbito universitário, que delimita bem os poderes por aqui. No entanto, os não-docentes atendem, não apenas aos alunos, mas também aos docentes, e a outros não-docentes (como em qualquer empresa). Só por essa pequena alteração, os 23 mil deveriam ser contados como 17 mil, e os 80 como 86 mil, na conta do reitor.
- E não é só isso. Há hoje na USP várias unidades voltadas para produção cultural, científica ou mesmo de serviços, e dirigidos não só aos estudantes mas a toda a comunidade. Um exemplo direto do meu trabalho. Estamos desenvolvendo um software para uso pelo SESA (Serviço Especial de Saúde de Araraquara), que é mantido pela USP para aplicação de conhecimento acadêmico/científico, mas cujo benefício de atendimento é
à população. E lembrando que em Araraquara não há campus da USP, fica fácil imaginar que não são estudantes desta universidade os beneficiados. Pois só essa unidade conta com mais de 100 funcionários ligados a ela, sem contar nós, desenvolvedores, que também servimos a ela. E este é só um micro-exemplo interiorano da realidade da universidade. Como há também museus, bibliotecas, hospitais, entre outros serviços abertos à população (e muito aquém do que deveria ser, seja dita a verdade). - Colocar os números macros, totais, uma vez que a sociedade vê a universidade primeiro pela educação, pode realmente endossar o discurso do reitor, de que há muito servidor para pouco servido. Porém, se a análise for feita mais corretamente olhando para cada unidade de ensino da USP, dificilmente encontraremos alguma que chegue a 1 servidor para cada 10 alunos. Aliás, eu diria que a média é bem abaixo disso.
- Por último, vale lembrar que o mesmo reitor foi o responsável direto por mais de 200 demissões no início de Janeiro, algo que se não for inédito, é raro, e com certeza nunca feito com tão pouca sensibilidade e tão pífias justificativas. E é o mesmo reitor que desde que assumiu em 2010 entrou em confronto contra os funcionários da universidade, e já deu diversas declarações diminuindo a importância do trabalho dos mesmos, e deixando margem a possibilidade de mais demissões e mais tercerização de serviço.
Acho que não é por aí que se constrói uma educação contínua, gratuita e de qualidade…
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