O amor e ódio que envolve o alvinegro do Parque São Jorge faz surgirem algumas lendas. e entre elas, a de que o Corinthians não conseguiu ter um estádio em 100 anos, e que isso diminui o clube de alguma forma.

Conversa de torcedor, tão sem sentido quanto reduzir o tamanho do Corinthians por ainda não ter uma conquista de Libertadores. E quanto a isso sempre traço uma analogia com a Seleção Inglesa. Campeã mundial uma vez, jogando em seu próprio país, assim como o Corinthians, ninguém que entenda o mínimo de futebol (e de lógica) reduz sua importância esportiva por nunca ter vencido o torneio continental, a Eurocopa.

Ter ou não ter um estádio

Quanto a estádio, ter ou não ter é mera questão administrativa. Nem sempre é vantajoso ter. Nem todo grande clube tem. Milan e Internazionale, os rivais de Milão, na Itália, por exemplo, dividem o mesmo espaço público, algo que é feito no Rio de Janeiro e em Minas Gerais há décadas com muita tranquilidade, e sem grande ônus. Ter um estádio próprio é uma estratégia de negócios, que pode ou não ser lucrativa, dependendo de como se equacionam as bilheterias, publicidades e lojas instaladas com os custos de construção e manutenção.

Não vejo a construção de um novo estádio para o Corinthians como uma necessidade. A utilização do Pacaembu como palco da Fiel tem atendido à demanda razoavelmente desde 1940. Claro que um espaço onde coubessem mais torcedores tornariam os jogos mais rentáveis e mais bonitos, mas nada que não fosse possível fazer com um projeto de modernização do estádio municipal – e para mim estaria ok continuar mandando os jogos lá e pagando aluguel.

No entanto, construir seu estádio próprio é uma oportunidade que, com a Copa de 2014 no Brasil, o Corinthians não poderia deixar passar. Não pode!

Só é preciso separar as coisas aqui. A oportunidade existe, e a atual diretoria do Corinthians tem obrigação de aproveitá-la. Deve isso aos corinthianos, e só aos corinthianos. A responsabilidade de o estado de São Paulo ter um estádio para receber a abertura da Copa, ou qualquer jogo que seja, é do poder público paulista, e não do Corinthians, como muitos tentam atribuir ultimamente.

Itaquerão

É um jogo político e de negócios muito elaborado. Um jogo de xadrez, ou de poker, visto que muitas das movimentações são apostas cegas, onde não se sabe as cartas que o “oponente” mostrará. E aqui é bom que se diga: não há santos nesse enredo.

A estratégia corinthiana começou quando Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, passou a rechaçar o estádio do Morumbi, então palco de todos os clássicos paulistas, como alternativa para os jogos do Timão. Pouco tempo depois, o Palmeiras era convencido a adotar a mesma estratégia, que pode ter tido como objetivo tirar o foco do Morumbi como palco principal do futebol em São Paulo. Em seguida, coincidentemente ou não com uma estranha aproximação de Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, com Ricardo Teixeira, o manda-chuva eterno da CBF, o estádio são-paulino foi descartado como sede dos jogos da Copa em São Paulo.

Foi então que uma das muitas propostas para a construção de um estádio para a Fiel Torcida em Itaquera, na Zona Leste, reduto corinthiano, ganhou força e foi apresentada no clube como projeto de estádio para o Corinthians – e não para a Copa. O projeto custaria em torno de R$ 350 milhões, a serem viabilizados por crédito à construtora Odebrecht, e pagos pelo Corinthians com a venda de naming rights (direitos sobre o nome do estádio). O estádio teria capacidade para 45 mil pessoas, o que o clube calcula ser suficiente para atender o público médio das partidas de futebol, e poderia ser cedido “generosamente” como palco dos jogo da Copa.

O problema é que para receber a abertura da copa, o Estádio necessita ter capacidade mínima de 65 mil lugares. E a diretoria alvinegra sempre soube disso, mas por adotar o discurso de que o estádio era para o Corinthians, e não para a Copa, ela jogava ao poder público ou aos organizadores do evento (no caso a Fifa) a responsabilidade de arcar com essas diferenças – as quais foram estimadas, inicialmente, em torno de mais 400 milhões.

É claro que este estádio não seria erguido com “apenas” 350 mi. Como também é evidente que o Corinthians não conseguiria todo esse montante sem o advento da copa. Ou seja, sem Copa, sem estádio novo. A aposta corinthiana, desde o princípio, era criar a alternativa, adotar um discurso de indiferença com a competição de 2014, e a partir disso atrair recursos (públicos, talvez) para que erguessem seu estádio sem que a conta fosse para o Parque São Jorge. Conseguiu, por enquanto, algum esforço burocrático para a liberação de financiamento via BNDES para o pagamento da diferença de valores, o qual promete pagar com recursos do naming rights (mas hein? Esse dinheiro já não estava comprometido para pagar os primeiros 350?). Porém, tem esbarrado na forte opinião pública e principalmente na guerra política que, ao mesmo tempo em que pressiona o governo do estado para acelerar o passo de seu estádio para 2014, exige que não haja injeção de dinheiro público nas obras.

Sem perspectivas de garantias financeiras, pelo contrário, com o surgimento de estimativas de aumento nos gastos para construção de seu estádio, e com o prazo para início das obras cada vez mais apertado, o Corinthians ganhou tempo. Fechou com a Odebrecht, isoladamente, o trabalho de terraplanagem do local destinado ao estádio – etapa que deve levar alguns meses – enquanto continua no seu trabalho de bastidores para reduzir custos e atrair recursos externos.

Até então, dirigentes são-paulinos, inconformados com a “perda” da abertura da Copa em seu estádio (porque também eles planejavam angariar fundos públicos para reforma do Morumbi, e principalmente para investimentos em melhorias públicas nos arredores, que hoje é o principal problema do estádio tricolor), tentaram todo tipo de influência política para atrapalhar a idéia corinthiana. Mas hoje, 37 meses antes do início da Copa, não restou alternativas à São Paulo. Ou é o estádio do Corinthians a receber os jogos da Copa 2014 no estado, ou não haverão jogos aqui, o que teria impacto político mais negativo do que assumirem as contas agora, mesmo contra a opinião pública.

Eu não sei se esse estádio em Itaquera vai sair. Como corinthiano, espero que sim. Como cidadão paulista e brasileiro, espero não ter que pagar essa conta, ainda que disfarçada, como já pagamos outrora a construção do Morumbi, entre tantas outras obras que não nos interessavam. Mas com tanto olho gordo só pra justificar a manutenção de piadinhas sem sentido, nada mais conveniente do que iniciar os trabalhos de terraplanagem com uma oração.

Algo importante a ser dito: o estádio em Itaquera não será o primeiro do Timão em 100 anos. Será o terceiro, sem contar o Pacaembu, que até então sempre foi a verdadeira casa corinthiana. É que um estádio proporcional à dimensão da Fiel Torcida nunca poderá ser construído mesmo.

Abaixo, um pouco dos estádios corinthianos em sua história.

Ponte Grande

Em seus primeiros anos de vida, o time do povo alugava para jogar uma várzea no Bom Retiro, bairro onde nasceu o clube. E foi com o suor dos próprios corinthianos que foi erguido o primeiro estádio, na Ponte Grande (atual Ponte das Bandeiras). Lá o Corinthians jogou de 1918 a 1927, período que inclui o primeiro tricampeonato paulista (1922, 1923 e 1924). Em 1928, com a mudança para o Parque São Jorge, o estádio foi cedido para a Associação Atlética São Bento.

Fazendinha

O Sport Club Corinthians Paulista adquiriu a área do Parque São Jorge em 1926, e dois anos depois fazia sua estréia em sua nova casa, que depois receberia o nome de Estádio Alfredo Schurig. Jogou lá com alguma regularidade até a década de 70, embora a maioria dos grandes jogos acontecessem mesmo no estádio municipal do Pacaembu.

O recorde de público é de 28 mil pessoas, num Corinthians x Santos em 1947.

A última partida oficial do Corinthians na Fazendinha foi em 2002.

Referência: livro “Timão 100 anos – 100 jogos – 100 ídolos”, de Celso Unzelte.

anderson

6 Responses to “Os estádios do Corinthians”

  1. Alternativa até tem. A Arena Palmeiras, por exemplo. Não para a abertura, claro.

    Realmente é uma transferência de responsabilidade querer atribuir a clubes a responsabilidade de ter um estádio para abertura de Copa do Mundo, nos padrões exigidos pela FIFA. Só que os próprios clubes entraram nessa barca furada, talvez subestimando o custo das obras, ou esperando uma ajudinha governamental. Desde 2007 o São Paulo já ofereceu seu estádio, bem como Internacional e Atlético-PR. O erro talvez tenha sido aí… o poder público não se preocupou em fazer algo pelo fato de alguns clubes terem oferecido seus estádios.

    Quanto a construir um estádio com 350 milhões, até rola. Foi o que custou, por exemplo, o Engenhão, que tem capacidade similar. Tudo bem que foi já há 4 anos, mas corrigido acho que daria entre 400 e 450 milhões.

    • Precisa ver os custos para adequação do espaço e tudo mais. Mas talvez desse mesmo. Foda que a Fifa faz um monte de exigência que para os clubes não tem importância nenhuma. Por outro lado, o Corinthians não pode esquivar-se totalmente dessas exigências, pois depende da Copa pra erguer seu estádio. É como eu disse, uma isca, uma aposta.

  2. O mais estratégico para a Prefeitura e o Estado, teria sido convocar o Corinthians, pedir para o mesmo desistir da construção de seu estádio, que o Pacaembu seria ampliado para a Copa, e depois precisaria de um time grande jogar lá.
    No Rio, o Maracanã pós Copa tem Fla e Flu para usar; Belo Horizonte, Atlético e Cruzeiro; Brasília, os times de lá. Em São Paulo, já que não há estádio padrão FIFA, poderia o Pacaembu ter sido adaptado para isso, e Corinthians e Santos poderiam usá-lo depois da Copa.

  3. Andres foi inteligente na arrumação política. Aproximou-se de Ricardo Teixeira, deixou JJ se queimar sozinho e o estádio vai sair. E, sim, vai abrigar a abertura da Copa – nem que no final das contas custe o preço de dois estádios.

    Acho importante o Corinthians ter uma casa própria. Não pra dar qualquer satisfação a adversários – isso é dar a eles importância que não têm. Mas para fazer o clube capitalizar com isso em termos esportivos e financeiros.

  4. Em se tratando de CORINTHIANS, as proporções são sempre maiores.
    Bem ou mal; falem; porém todos falam, por isso a imensa grandeza do Timão.
    Quando passa um jogo na tv, a favor e contra são todas as torcidas assistindo, vendo o Timão jogar.
    Em fim ser CORINTHIANO é o sentimento inexplicavel que somente essa nação tem o previlégio de sentir.

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