Durante minha graduação, trabalhei por algum tempo num projeto de pesquisa de Iniciação Científica. O estudo era sobre Algoritmos Evolutivos (ou Genéticos), uma subárea de Inteligência Artificial que consiste, a grosso modo, em buscar uma solução muito boa para um problema muito complexo que não exige um resultado preciso.
Algoritmos Evolutivos
Baseado no processo evolutivo natural, os AEs classificam possíveis soluções do problema que se propõem a otimizar, selecionam as melhores, e, a partir delas, geram mutações, soluções combinadas, que geram um novo conjunto de possíveis soluções, dando início a um novo ciclo do processo. Essa técnica é muito utilizada para projetos de rede (de computadores, elétrica, de dados, etc.), onde múltiplos “pontos” ou “malhas” podem se interconectar de diversas formas, gerando redes completamente diferentes, produnzido resultados mais ou menos satisfatórios, dependendo do resultado esperado. Os AEs são usados, inclusive, em uma outra subárea de IA, as Redes Neurais Artificiais, baseada no processo cognitivo humano.
Estudar AEs me ensinou muito mais do que técnicas para otimizações computacionais, ou qualquer conhecimento correlato da biologia. O que aprendi com essa e outras experiências de vida é que a evolução se alimenta das diferenças. Quando você trabalha sempre em cima da mesma gama de informações, por mais que evolua dentro dela, estará limitado. Enquanto quando insere uma informação nova, de natureza diferente, gera novas combinações de idéias.
É como acontece em nossa rede de neurônios. Um conjunto enorme de informações e sensações se aproximam e podem ou não se conectar, através das sinapses. A chance desses estímulos resultarem em diferentes conexões sinápticas aumentam conforme aumenta a diversidade da natureza das informações e sensações absorvidas.
Tenho percebido uma grande tendência para o pensamento especializado, de certa forma até estimulada por “especialistas” (mas especialistas em quê?). Dizem que, diante de tanta informação que nos é transmitida, e cada vez mais, é importante não querer saber sobre tudo, mas ter um conhecimento aprofundado sobre um assunto específico.
Pode ser que essa idéia esteja produzindo profissionais especialistas melhores. Tenho dúvidas. Mas certamente não produz pessoas melhores, capazes de irem além de escolher o melhor método para resolver o seus problemas, e pensarem no propósito do que estão fazendo e seu desencadeamento global. Ou simplesmente pensarem em situações absolutamente a parte de seus contextos individuais, mas que ajude a aguçar novos sentidos, dando novas perspectivas ao indivíduo.
Claro que não é possível e nem conveniente querer conhecer sobre todos os assuntos, ainda que minimamente. Conheço pessoas de conhecimentos gerais impressionantes e sem desenvolvimento pessoal algum. Sem sucesso em nada. A alguma área, em algum momento de nossas vidas, temos que nos dedicar. Mas é importante o exercício de pensar diferente, seja em pequenas ocasiões, por exemplo, escolhendo argumentos opostos aos que acreditamos sobre um tema, mas principalmente através de hábitos que nos dêem uma formação cultural mais ampla e variada.
Think Different era o slogan de uma campanha publicitária da Apple (sempre as melhores) em 1997. O texto abaixo é de uma das versões do comercial de TV da campanha.
Isto é para os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os arruaceiros. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Os que vêem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de regras. E eles não têm nenhum respeito pelo status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniar. Sobre a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque as coisas mudam. Eles empurram a raça humana para frente. E enquanto alguns podem vê-los como loucos, nós vemos gênios. Porque as pessoas que são loucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, são as que o fazem. – A Apple Inc.
Que bonito esse texto! Mesmo quando explica algo tão complexo quanto o seu estudo científico. Até pode ser poesia!
Pois é, hoje é a segunda vez que vejo algo sobre pensar diferente, ou ir em direção à mudança… E eu estou gostando.
Beijos